Por Fernando Martines
Compartilhar em sala de aula uma cartilha com críticas ao governador é desvirtuamento de função dos professores. Com esse entendimento, o juiz Luis Carlos de Miranda, da 14ª Vara Cível de Brasília, determinou que o Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro) pare de divulgar uma cartilha de críticas ao governador Rodrigo Rollemberg (PSB).
A cartilha propõe atividades lúdicas, como cantar, para ensinar críticas ao governador Rollemberg (foto). Agência Senado
Por meio de seu site e redes sociais, o Sinpro lançou a campanha E agora, Rodrigo?, na qual critica ações publicadas tomadas por ele. Dentro desse projeto, lançaram a cartilha Atividades Pedagógicas da Campanha E agora Rodrigo?, que é um guia para professores utilizarem em sala de aula com atividades de crítica ao governador.
Para o juiz Carlos de Miranda, o compartilhamento da cartilha, principalmente nas escolas, é uma atitude manifestamente abusiva e ilícita. Ele também critica os professores, que abandonam a função de ensinar o conteúdo didático e passam a repassar a visão ideológica do sindicato.
“Há um nítido desvirtuamento da finalidade do Sindicato, e da própria função dos professores, que deveria ser educar e estimular o pensamento crítico, e não impor 'goela a baixo' a ideologia política dos dirigentes sindicais”, disse o magistrado.
A decisão foi de proibir que a cartilha seja compartilhada em qualquer meio, seja nas escolas ou na internet. Já quanto ao restante da campanha, Carlos de Miranda afirmou que o sindicato é livre para fazê-la e que é direito da entidade se posicionar contra o governador.
“A atitude de um sindicato ou associação de contrapor-se ao Governo ou às políticas públicas por ele adotadas, por não concordar com o ritmo da gestão administrativa ou com decisões tomadas, por si só, não se caracteriza como ilícita. Nesse diapasão, enquanto a campanha sindical estiver adstrita a esse aspecto, mesmo que por meio eletrônico e com uso das mídias sociais, em princípio, não haverá afronta aos direitos de personalidade do autor”, afirmou o juiz.
Cantoria na sala
A cartilha chama a atenção pelas tarefas que propõe, mesmo para alunos que sequer foram alfabetizados. Para os pequenos, a proposta é cantar e mostrar fotos de Rollemberg. O guia pede que os professores cantem uma música de protesto ao governador e façam interpretação de texto dos versos.
O Sinpro também orienta que os professores elaborem privas e deveres de casa que tenham como respostas críticas ao governador.
Na decisão judicial, a cartilha é reproduzida. Veja abaixo:
1)! Ouvir, VÁRIAS VEZES, a música (principalmente, crianças que ainda não sabem ler); as outras já estarão com a letra em mãos para cantar e acompanhar;
2)! Explorar o ritmo (samba);
3)! Explorar o personagem principal da música. Quem é? Levar uma breve biografia e o que tem feito por Brasília.
4)! Levar fotos (há crianças que nunca o viram).
5)! Explicar que é uma paródia e apresentar o poema original.
6)! Exibir o vídeo do poema original.
7)! Exibir o vídeo da paródia do poema.
8)! Levar para a sala de aula folders para serem trabalhados.
9)! Pedir aos estudantes com mais idade que façam outras paródias com o mesmo tema.
10)!Transformar a música em um cordel.
11)! Produzir uma notícia sobre a música.
12)! Produzir uma lista de melhorias na sua escola.
13)! Organizar uma exposição dos trabalhos para a comunidade.
14)! a) Usar o texto a seguir
b) Criar novos poemas.
c) Fazer a interpretação de texto.
SAI, RODRIGO!!!
Ouça bem/ meu camarada,
O que agora vou dizer,
Lá pras bandas de Brasília
O que está a suceder.
É um tal de Seu Rodrigo
Que não sabe o que fazer
Ocupando um grande cargo
Que nem sei bem pra que.
Depois que o tal assumiu
A coisa lá ficou feia,
A saúde e a educação
Estão levando uma peia.
Brasília anda sem rumo
Por causa desse Rodrigo,
Tem gente por todo lado
Lutando por um abrigo.
O povo tá que protesta!!
Mas num há jeito não.
Brasília só vai melhorar
Com a saída do cidadão!
Clique aqui para ler a decisão
Fonte: https://www.conjur.com.br/2018-fev-24/professor-nao-usar-cartilha-pedagogica-critica-governador