Nos últimos anos, mulheres de todas as partes do mundo levantaram-se, buscaram a união e estão mostrando que é o momento delas na luta contra machismo, assédios sexuais e morais na vida pessoal e, principalmente, profissional.
Movimentos como #metoo (eu também), #timesup (tempo acabou), #BalanceTonPorc (“delate seu porco”), #meuprimerioassedio, #meuamigosecreto e muitos outros ganharam as redes sociais, manchetes dos principais jornais e revistas, nacionais e internacionais, chegaram às ruas e deram voz para milhares de mulheres.
O discurso visa debater o lugar delas no mercado de trabalho e a importância da presença feminina nos cargos de chefia. Os homens ainda são maioria no ambiente de comando, só 15% dos postos de CEO no mundo são ocupados por mulheres. No direito, 11 advogadas brasilienses se uniram para lutar contra isso.
A associação “Elas Pedem Vista” começou a ser discutida há dois anos, mas só em 11 de setembro de 2017, no Dia do Advogado, realmente nasceu. “Sentíamos falta de um grupo de apoio, onde pudéssemos conversar sobre a experiência dentro da advocacia, quebrar estereótipos e fragilidades vividas por algumas mulheres”, explica a advogada e presidente da associação, Ana Carolina Caputo Bastos.
Convites para pequenos eventos ligados à profissão, como happy hours e jantares, por exemplo, são estendidos apenas aos homens. As mulheres ficam em dúvida se devem ir e indagam se outra advogada estará presente. “O mundo masculino é muito unido, precisávamos nos articular também”, diz Ana Carolina.
Ela lembra de uma situação vivida por uma colega de profissão. Durante uma reunião social de advogadas, os homens saíram para fumar charuto e um amigo da moça a chamou para ir junto, ela o acompanhou. Resultado? Ficou mal falada no meio e foi chamada de “oferecida”. O ambiente era despojado, mas não deixava de ser uma oportunidade para falar de negócios.
“Ainda tem divisão. Ela julgou estar protegida e não estava. Muitas vezes o pessoal e o profissional se misturam nesses encontros. Precisamos nos organizar para não nos tornarmos pequenas ilhas e sofrer assédios. Você quer fumar charuto? Eu fico do seu lado. Vamos tornar a mescla mais natural. É a hora da união”, fala a advogada.
A vice-presidente da associação Cristina Maria Gama Neves da Silva diz não se tratar de um combate com o sexo masculino. “A gente não quer competir, brigar, mas está na hora de olhar para nós, mulheres. Ver nossas prioridades, preferências, estilos de vida. Nos fortalecer em uma rede com iniciativas que nos promovam”, defende.
As advogadas foram aconselhadas a desistir do direito, pois “advocacia não é para meninas”. Filhas de dois ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Eduardo Caputo Bastos e Fernando Neves da Silva, elas creditam a paixão pela profissão aos exemplos que tiveram em casa. E não pensam em largá-la, por isso a urgente necessidade de mudança.
“Elas Pedem Vista” na prática
O nome do grupo explica muito. “Judiciário e Congresso usam esse termo. Pedir vista é uma trava para analisar, estudar melhor a questão antes de votar, podendo divergir ou acompanhar o relator com outro argumento. Serve para melhorar a análise”, explica Ana Carolina.
Além de discutir temas sensíveis à sociedade, difundir e fortalecer a opinião das mulheres sobre o direito, a associação quer dar mais visibilidade ao trabalho das advogadas. Por exemplo, publicação de artigos e palestras.
Fonte: https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/comportamento/advogadas-se-unem-pela-busca-da-igualdade-de-genero-na-profissao